Você não está só

O Dia Mundial de Prevenção ao Suicídio (definido em 2003) foi no dia 10 deste mês. Há um ano, escrevi o texto Setembro amarelo, sobre essa difícil questão, que ainda é um assunto espinhoso, e muitas pessoas evitam levantar essa bola, pois há o medo de que a discussão desse assunto leve a um aumento dos casos, como se fosse um incentivo à prática desse ato. Como já falei na outra postagem, depressão é um caso sério e precisamos falar sobre ela, e há um podcast (sim, estou viciado em podcasts) que trata desse assunto, na minha opinião, do jeito que precisa ser tratado: com a naturalidade que ele merece. É o Esquizofrenoias, da Amanda Ramalho, que entra no ar todas as segundas-feiras.

Depressão é uma doença e, como a Amanda diz em quase todo episódio, deve ser tratada dessa forma: como uma torção no joelho, uma queimadura, uma dor de barriga. É uma “doença que dá na cabeça”, invisível, por isso talvez seja difícil as pessoas aceitarem que muitas vezes precisam de um remédio para equilibrar-se quimicamente e acham que psiquiatra é coisa para gente doida.

E quem não é um pouco doido, hein?

Não tenho nenhum caso de suicídio próximo, nunca soube de ninguém que eu conhecesse que tenha se matado por qualquer motivo que seja. Porém, o assunto me toca profundamente, pois a ideia do suicídio me assusta. Me assusta, pois eu não sei se amanhã serei eu, se será alguém próximo que esteja passando por algum problema “invisível” que eu não tenha percebido. E já lidei – e vou lidar – com alguns textos sobre a questão profissionalmente. Um deles comentei na postagem anterior, que é o livro Meu coração e outros buracos negros, da Jasmine Warga, que traduzi para a Rocco. Outro é um clássico que traduzirei para 2020.

Estamos todos sob pressão, sofrendo com o governo e com tudo isso que está aí, com o desemprego em alta, falta de segurança, crise na educação, em especial na educação superior etc. e tal. E aí a cabeça fica bastante atribulada

E por falar em tradução, e para continuar no tema do suicídio, há um livro alemão de 2016 muito curioso que trata do tema. O nome dele é Der freie Tod [A morte livre], de Anne Waak (editora Aufbau, sem tradução). A representante da editora, quando me enviou a prova do livro, me disse o seguinte: “Apesar do tema, o livro é bem leve”. Achei estranho e comecei a ler. E o livro realmente é quase um anedotário sobre a história do suicídio no mundo, com diversos casos famosos, mostrando que os motivos podem ser os mais variados, desde o fanatismo religioso até mesmo a busca pela notoriedade que não se tem em vida, mas, em todos os casos, fica claro: são problemas de saúde mental que levam ao ato. Não é uma brincadeira com o tema suicídio, mas sim um registro mais informal sobre o tema. E, claro, pode ser um gatilho, o que também é avisado no prefácio do livro.

Esse livro corrobora o que a Amanda diz em seus programas, que têm ajudado muita gente a compreender questões de saúde mental, que, arrisco dizer, é uma das maiores sinucas de bico da modernidade. Estamos todos sob pressão, sofrendo com o governo e com tudo isso que está aí, com o desemprego em alta, falta de segurança, crise na educação, em especial na educação superior etc. e tal. Tem a questão das redes sociais, da competitividade. Tem vários outros fatores em jogo. E aí a cabeça fica bastante atribulada e, para muita gente, a saída é sair de cena. É apavorante, mas precisamos lidar com isso e continuar.

Então, vamos falar sobre a prevenção de suicídio. Vamos falar sobre doenças mentais. Vamos nos cuidar. E fazer terapia. E agora, em setembro, vamos ficar de olho, bem de olho ao nosso redor.

Fiquem com o programa Esquizofrenoias sobre suicídio. Neste ano, o podcast está fazendo um especial Setembro Amarelo, e o primeiro episódio foi com a Veronica da Faxina Boa. Escutem os outros programas também, pois são muito elucidativos e, por vezes, divertidos. E, como termina a própria Amanda todo podcast: “Paz nos estádios”.

Leave A Comment

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *