Setembro amarelo

Depressão é doença, disso ninguém mais tem dúvida, por mais que as pessoas ainda teimem em tentar “alegrar” quem está depressivo, dizendo palavras de encorajamento, ou digam que é falta de seja lá o que for. É doença e precisa ser tratada como tal, do contrário continuaremos a sofrer desse mal contemporâneo e ter que dedicar um mês à conscientização para a atitude final de muitas pessoas que sofrem de depressão: o suicídio.

Nada como a maturidade para ensinar. Eu já fui um desses que considerava a depressão uma “frescura”, coisa de gente que não tinha o que fazer. E hoje, em retrospecto, vejo como eu sempre fui muito ignorante, principalmente porque não tinha por perto ninguém que eu sentisse ser depressivo. Triste, talvez. Deprimido, certamente. Mas não doente. Até que comecei a observar melhor quem estava ao meu redor, e a mim mesmo; foi quando me interessei pelo assunto e comecei leituras sobre a questão. E também foi quando me perguntei se eu tinha algum traço que poderia me levar à depressão. E essa autoanálise é constante, precisa ser.

E também esse olhar ao redor é fundamental. Nem todo mundo grita por socorro. Aliás, a maioria das pessoas sofre calada, começa a deixar a vida levar até onde der. Podem ser pessoas bastante funcionais, mas que em vários momentos mostram apatia diante do mundo. Outras vezes a pessoa não consegue levantar da cama, lhe falta vontade. Qualquer vontade. E às vezes a gente ignora esses sintomas e atribui à tristeza. E, em muitos casos, uma boa conversa basta para identificar o problema e sugerir saídas para quem está nessa situação.

E muitas vezes apenas um ouvido disposto e um coração aberto bastam, além dos tratamentos necessários.

Meu coração e outros buracos negros, de Jasmine Warga (Rocco), é um dos livros que mais me deixaram com um nó na garganta ao imaginar uma pessoa com depressão que resolve se suicidar. É a história de Aysel, uma menina que enfrenta todo tipo de pressão, pois seu pai cometeu um crime. E ela começa a sentir os sintomas de uma forte depressão e decide que vai se matar. Mas como lhe falta coragem para levar a cabo sua decisão, ela acaba procurando um “parceiro de suicídio”. Em uma passagem, Aysel deixa claro o terror que enfrenta com sua doença:

Depressão é como um passo de que não se pode escapar. Ele esmaga você, faz até as menores coisas, tipo amarrar os tênis ou mastigar uma torrada, parecerem uma corrida de trinta quilômetros montanha acima. A depressão faz parte de você; está nos ossos e no sangue. (p. 22)

Falei desse livro aqui também.

Por isso, sempre esteja atento a quem está ao seu lado. Sempre esteja alerta à própria falta de vontade de fazer as coisas, às dificuldades em coisas que antes eram corriqueiras, como tomar banho, escovar os dentes, levantar-se da cama. Enfrentar essa doença como deve ser encarada, sempre com muito amor e paciência, é um dos caminho para vencê-la.

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