22 x 30

Não me lembro do dia ou do mês, mas me lembro com muita nitidez quando, em 1995, Lérida, professora de inglês da Escola Estadual Cândido Gonçalves Gomide, em Pirituba, São Paulo, disse o seguinte para mim:

Você é bom em inglês. Por que você não faz a mesma faculdade que fiz, Letras na Faculdade Ibero-Americana. Ela não é muito cara, mas é uma das melhores na área de tradução. Acho que você vai se dar bem.

Eu já devo ter contado essa história milhares de vezes em diversos lugares, inclusive aqui no blog, mas acho que, sendo parte de mim, do que sou e de onde cheguei, não vou me cansar de contá-la e agradecer à Lérida, com quem nunca mais tive contato depois de terminar o ensino médio.

Aquela conversa – e as diversas vezes em que ela me recebeu em sua casa depois da escola para me incentivar com livros e materiais sobre tradução – foram decisivas para uma escolha quase no escuro, pois até aí eu não sabia o que era tradução, o que era a faculdade de Letras, o que era o mundo editorial. Uma caminhada que começa lá em fevereiro de 1997, na aula do saudoso prof. Fernando Dantas, quando, ao fim da aula, falei para mim mesmo: “É isso que quero fazer da vida”.

E, desde lá, são 22 comemorações do 30 de setembro, 20 comemorações realmente trabalhando com textos, 14 trabalhando como tradutor em tempo integral, 6 dando aula de tradução literária em cursos livres e, depois, na Universidade Estácio de Sá. Olho para aquele menino de 17 anos em 1997, recém-saído do ensino médio, sem saber muito bem que caminho tomaria, o mundo que enfrentaria, os “nãos” que receberia, os “sins” que abraçaria.

Penso nos professores que foram importantes para mim, nas tradutoras que guiaram o início da minha carreira e me adotaram, nos colegas que me ajudaram a galgar degraus que eu nem imaginava existir, nos alunos que me ensinaram e ensinam todos os dias. E também imagino o futuro. E consigo sorrir ao imaginá-lo, apesar de todos os poréns que hoje enfrentamos não apenas no Brasil, mas no mundo todo.

Neste dia 30, desejo que possamos continuar nossa luta com literatura para todos os gostos. Que possamos crescer e preparar cada vez mais terreno para quem está vindo por aí. Que as pessoas enxerguem cada vez mais a importância da tradução e da interpretação para a cultura, essa tão combalida nos últimos tempos. Somos parte da resistência e assim continuaremos.

Recadinho: estou tentando manter a regularidade de postagens aqui, mas estarei em viagem nos próximos 30 dias e talvez a regularidade caia em outubro. Mas logo estou de volta. Vou tentar publicar alguma coisa nesse período, espero conseguir. Até a volta!

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