Livros de colorir: por que a polêmica?

Vou resumir aqui o conteúdo do texto. Então, se não quiser continuar, ao menos já sabe do que estou falando: cada um sabe o que faz com o próprio tempo. E agora, vamos às considerações sobre essa coisa tão abundante na modernidade que é a opinião. E sobre mercado editorial. E sobre as coisas que são um problema de cada um.

Volta e meia polêmicas sobre determinados tipos de livros inundam a internet, e as pessoas se jogam nelas com um desespero tão grande, provavelmente porque esqueceram que estão repetindo mesma polêmica com outros trajes. Talvez seja o que vivemos hoje na era da informação — do excesso de informação, da informação totalmente irrelevante, de informações desencontradas — , essa avalanche de notícias que nos impele, como manada mesmo, a omitir opiniões, quase nunca solicitadas, sobre tudo. Este texto não vai falar disso, mas de outra coisa: os livros de colorir.

A polêmica dividiu as pessoas em “coloristas” e “defensores da literatura”, o que acho uma imensa bobagem. Há aqueles que compraram os livros de colorir, lápis de cor, canetinhas, esquadro e tudo o mais defendem que a pintura faz bem, relaxa, faz com que a criatividade aumente, enfim, colorir é tudo de bom. Há aqueles que acham “modinha” e dizem que as pinturas mil estão tirando tempo de leitura das pessoas, que elas deveriam estar fazendo outras coisas e não pintando “como idiotas infantis” (é, eu li isso).

Para os primeiros, dou meus parabéns. Vocês usam o seu tempo como quiserem. Se isso tira ou impede que vocês leiam algo de mais interessante, o problema é todo seu. Se isso impede que vocês comprem outros livros que poderiam ser muito mais úteis do que a pintura, que um dia acaba, o problema também é todo seu. Para os segundos, eu só digo uma coisa: tsc.

Por um lado, podemos até concordar que se a pessoa pegasse um bom livro de literatura, ensaios, ciências ou o que quer que fosse, o tempo dela seria mais bem empregado. E também que contribuiria para fomentar mais literatura nas prateleiras — sendo essa segunda hipótese bem discutível. Por outro, vejam os números de vendas dos livros de colorir: 600 mil exemplares no mês de maio para a pioneira dos livros adultos para colorir, que vão puxar as vendas de várias outras editoras que entraram na onda. Como entraram na onda da autoajuda, dos “segredos” de sucesso, dos padres, dos vampiros, bruxos, tronos, coroas e afins. E esse dinheiro está circulando no mercado editorial, que até pouco tempo se declarava mal das pernas. Está bom? Não, não está tão bom assim. A crise pegou o mercado de jeito. Mas os livros de colorir vieram dar um fôlego, possibilitar a compra de direitos de outros livros, negociações que vão surgir até a próxima onda. Ou assim esperamos.

Isso é um problema dos coloristas? Não. Isso deveria ser uma questão a se pensar pelos defensores da literatura? Acredito que sim, pois se eles querem tanta literatura, literatura, literatura, deveriam deixar os livros de colorir circular sem reproches. E todas as outras modinhas. Pois elas levam gente para a livraria, criam o hábito de as pessoas visitarem sites de livros e sobre livros e aumentam as chances de essas mesmas pessoas descobrirem o gosto pela leitura.

Muitas dessas “bobagens” e “leituras menores” e “livros comerciais”, deem o nome que quiserem, são o que sustenta grande parte do mercado e alimentam a indústria do livro.

P.S. 1: Eu comprei livro de colorir. E lápis de cor. E curto dar umas coloridinhas de vez em quando. Nem por isso deixei de ler em quantidade E variedade.

P.S. 2: Vejam essa matéria com participação da psicóloga Daniela Pinotti Maluf sobre livros de colorir e afins: http://www.natue.com.br/natuelife/livros-de-colorir-para-adultos-viram-febre.html

[Publicado originalmente no Medium.]

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