Exigentes demais

Nós, profissionais do texto, sempre ficamos muito felizes quando uma nova editora, um novo cliente, uma nova LSP (language service provider), um novo bureau nos procura para desenvolver um projeto; mais felizes ainda quando desse projeto surge uma parceria, uma colaboração de longo prazo – acredito que todo mundo esteja em busca desse tipo de parceria, que, além de trazer uma tranquilidade financeira, também faz com que nos desenvolvamos dentro daquele tipo de trabalho, criando condições de melhorar com o passar do tempo e oferecer às pessoas interessadas o melhor que temos em cada período do projeto.

E nisso também somos exigentes: queremos condições boas de trabalho, porque também oferecemos a contrapartida justa nesse tipo de relação. Fazemos o nosso melhor trabalho, tentamos receber uma remuneração boa, ajudamos o cliente nos apuros que aparecem durante a parceria, nos esforçamos para corrigir os erros passados e, até mesmo, esclarecemos ao cliente por que um tipo de trabalho custa $X e outro tipo de trabalho custa $XX, e ele nos mostra por que teve que negociar o último orçamento por conta de um cliente de longa data; e assim as coisas se ajeitam.

E, muitas vezes, um não bem colocado – educado, assertivo, explicativo – pode alterar o rumo das coisas.

Porém, existe um tipo de cliente que costumo chamar de “exigente demais”: exige mundos e fundos nos contratos, proíbe tantas outras coisas, pressiona por condições das mais adversas e não aceita nenhuma negociação: os termos postos são os dele e ponto final. E para clientes assim, não há outra saída: ou você pula fora ou aceita ipsis litteris, sem reclamação a posteriori, o que lhe foi imposto pelo exigente demais.

Sei que, em tempos de vacas esquálidas, sentimos o impulso (ou mesmo a necessidade) de se colocar à mercê desse tipo de clientela, pois, à primeira vista, as exigências todas nem parecem muito cruéis: Ah, o que custa mandar uma amostra para avaliação do cliente? É para isso que servem os testes de tradução, seja lá em que segmento for. Ah, posso muito bem trabalhar no aplicativo que o cliente quer. Desde que esse aplicativo não atrapalhe o andamento do nosso trabalho, tudo bem. Considerando que a curva de aprendizagem não é remunerada, por isso ela deve entrar no nosso cálculo de despesa. Ah, mas nem paga tão mal. Tem certeza? Olha só o tanto de exigência para esse valor. Vale a pena? E não estou falando de exigências normais, aquelas que todo cliente deve fazer: entrega no prazo, um trabalho bem cuidado, uma tarefa concluída a contento, uma relação cordial e a documentação necessária para que o justo pagamento seja feito. Se passar disso, precisamos pensar se vale realmente a pena.

E, muitas vezes, um não bem colocado – educado, assertivo, explicativo – pode alterar o rumo das coisas. Em muitos momentos, esse não já me possibilitou negociações em que todo mundo saiu feliz da vida. Mas nem sempre as coisas são simples, e a empáfia de quem se imagina lá no alto impede que haja a flexibilidade que os dias de hoje tanto exigem da gente. Mas está tudo bem, a vida sempre continua.

E o NÃO dá pano para manga. E vai ser assunto para outro momento.

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