Sempre escrevo aqui sobre literatura, tradução e afins, mas hoje, com a situação na qual nos encontramos, é muito difícil passar longe desse assunto. E literatura e política sempre estão de braços dados, independentemente do tipo de literatura. De qualquer forma, não é por isso que estou escrevendo este post.
Nem é para tentar convencer ninguém a votar em fulano ou sicrano, pois, como corre à larga, voto é secreto, pessoal e intransferível, cada um sabe muito bem onde o calo aperta, em quem vai votar ou – o mote da vez – em quem nunca vai votar. Fato que, venhamos e convenhamos, não interessa a ninguém. Porém, queria chamar a possível leitora e o possível leitor desse post para uma reflexão rápida e rasteira, tendo em vista os fatos amplamente divulgados nos últimos tempos em todos os meios de comunicação.
Vejo muita gente abismada com a situação de países onde há uma ditadura instaurada, países onde a liberdade de opinião é totalmente tolhida, onde o índice de corrupção é estratosférico e o povo não apita em nada. Vejo muita gente que atribui isso a uma certa ideologia, que nada mais é que um arremedo de movimento político usado para ganhar forças. E vejo essas mesmas pessoas empurrando nosso país nessa direção. Pois seu voto virou uma ameaça. Não é um posicionamento. É uma ameaça velada. Vejam, por exemplo, os torcedores que cantam, sem nenhum pudor, que “Bolsonaro vai matar viado”. Eles não estão inventando isso. Eles ouviram o capitão reformado dizer que preferiria ter um filho morto em acidente a vê-lo com um bigodudo. Entre outros absurdos.
E isso está fazendo pessoas conscientes votarem com medo. Impelidas pelo pavor da volta de uma ditadura tupiniquim, uma nova visita aos porões sombrios da tortura e do cala-a-boca. Que muita gente diz que não viu. Como os alemães que não viram o nazismo se aproximar, acontecer e matar seis milhões de judeus. Aliás, algo que muitos seguidores do capitão reformado negam, nesse movimento revisionista que tem sua versão brasileira, com o presidente do STF chamando o golpe militar de “Movimento de 1964“.
Estamos a dois dias das eleições. A dois dias de decidir os rumos que queremos para nossa democracia.
Você pode ser anti-PT, claro. Você tem seus motivos para isso. Você pode ser anticorrupção, todos nós somos. Mas eu queria, de coração, pedir para que você, que está lendo esta postagem e está naquela indecisão em quem votar, pense que cada voto no Bolsonaro é um passo para que a democracia fique em perigo. Para que gente que você ama deixe de existir, ao menos do jeito que gostaria de existir. Para que gente que lutou e luta por igualdade e por respeito tenha sua voz calada. O voto é soberano. Depois que ele é dado, não dá para falar em tirar quem subir. Não foi o povo que tirou o Collor. Não foi o povo que tirou a Dilma. Foi a vontade política e econômica de quem está no poder há décadas. Então, pense bem. E vote com muita consciência. Não com ódio. Nem por vingança. Nem com indignação. Não é competição. É o futuro do seu país.
Nos vemos nas urnas. Para vencer o fascismo e mostrar, de uma vez por todas, que não somos o que as pesquisas retratam.