Falha nossa

Encarar a falha, o erro, o desacerto é sempre muito dolorido. Acredito que ninguém tenha realmente um preparo para aceitar aquela correção – e aqui quero falar apenas de texto, mas talvez extrapole – que pode ser aquilo que não se sabia antes ou mesmo aquela bobeada que podemos dar em um momento de distração, essa agora companheira de jornada de todo mundo que tem um celular e vive nesses tempos cada vez mais velozes. Inclusive, acho que a distração podia virar um dos sentimentos do desenho animado DivertidaMente. Sem dúvida nenhuma, faria muito sucesso e traria identificação imediata de crianças e adultos.

Errar não me deixa mais humano, mas acredito que aceitar meus erros, minhas limitações, meus cansaços e distrações, sim.

Independentemente de como o erro tenha ocorrido, ele nos oferece uma bifurcação em nosso trajeto profissional ou pessoal – e essa bifurcação pode se repetir algumas vezes, somos seres humanos, não máquinas que gravam uma coisa e essa gravação fica indelével em nossos arquivos. Ela pode nos levar a duas atitudes ou estados de espírito: à resignação do aprendizado ou à indignação. No detalhe, claro, essa bifurcação pode se ramificar em muitas outras reações, mas acredito que as básicas estão aí. E, em um primeiro momento, claro, minha idade e experiência me conduz à resignação do aprendizado e me deixa no porto seguro das decisões aparentemente mais maduras. Porém, toda correção também tem a chance de ser um ponto de vista ou uma possibilidade dentre muitas. E aí a indignação pode entrar em cena.

Esse estado de espírito é um tanto perigoso, visto que a indignação pode facilmente virar escárnio ou explosão raivosa, e esse caminho nunca termina bem para nenhuma das partes envolvidas. Errar é tão comum que gera o tal clichê “é humano” que, às vezes, por ser muito bobo, muito simples, pode causar raiva em quem sofre com tal erro. Ou, por outro lado, pode ser tão complexo e duradouro que faz o outro sentir que ali está o final de tudo, o derradeiro suspiro, o fim da linha de uma carreira, por exemplo. Mas também há uma terceira via aqui: a indignação pode servir como motor da defesa de um ponto de vista correto.

Todo mundo tem o direito de errar, mas a gente só deve apontar no outro o que é realmente um erro.

Quando temos certeza daquilo que fizemos e o outro aponta aquilo como errado, a indignação faz com que corramos atrás de subsídios para corroborar o que fizemos como algo correto. E aí temos um ótimo uso da indignação, aquela da certeza, do trabalho esmerado. Todo mundo tem o direito de errar, mas a gente só deve apontar no outro o que é realmente um erro. Já vi muito revisor/preparador de texto que acaba com o texto do tradutor, enchendo-o de “preferências”. Já falei disso na postagem deste link aqui no blog e em outras, pois é uma recorrência, mas não é disso que trato neste texto. Trata mais de aceitação do que de contra-ataque.

Errar não me deixa mais humano, mas acredito que aceitar meus erros, minhas limitações, meus cansaços e distrações, sim. Com o tempo, aprendi a fazê-lo, a duras penas, admito, mas aprendi. Não é agradável, mas chega a ser quase um alívio quando deparo com um erro grave e consigo dizer as palavras: “Desculpe, eu errei” ou “Foi mal, não tive a intenção de cometer esse erro”, já trabalhando a mente para não cometê-lo de novo e extrair do equívoco todo o aprendizado que ele puder me trazer. Não é um exercício fácil, mas, com o tempo, os erros tendem a diminuir, e essa sensação vai ficando cada vez mais leve.

2 comentários Falha nossa

  1. Susane Schmieg 19 de agosto de 2024 @ 17:48

    O tema do seu artigo é atualíssimo, pois trata das relações humanas, tão delicadas e desgastadas no mundo corporativo e digital. Conseguir apontar um erro alheio sem incorrer em humilhação, lacração, e até assédio moral, é fruto de lapidação da empatia. Da mesma forma, saber aceitar o erro sem revanchismo, indignação e mágoa é o exercício do desprendimento.

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    1. Petê Rissatti 2 de setembro de 2024 @ 16:33

      Obrigado, Susane! Muito bom seu ponto de vista.

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