O Dia Internacional da Tradução, comemorado no dia 30 de setembro, traz sempre um espaço de comemoração, mas também de muita reflexão sobre o quanto avançamos e o quanto ainda precisamos avançar. Quando olho para trás e enxergo o caminho que trilhei até chegar aqui – no que considero ainda a metade do caminho, sempre a metade do caminho –, sinto um misto de orgulho e medo; orgulho pelas contribuições que demos, meus colegas e eu, para a cultura brasileira como um todo. Medo pelos rumos que o país toma e pelos rumos dessa mesma cultura.
Mas não será o medo que me impedirá de continuar trilhando esse caminho – ainda na metade, sempre na metade – com muita garra. É árduo por diversos motivos: nosso trabalho é extremamente doloroso, mesmo que muito prazeroso; nossa remuneração nem sempre é das melhores, e em períodos de vacas magras, como este no qual estamos, não apenas a oferta, mas também as tarifas costumam cair um pouco; ninguém sabe exatamente o que fazemos, por isso há uma aura de mistério na profissão, e ela não é tão benéfica quanto pode parecer; ainda somos mais reconhecidos pelos nossos desacertos do que pelos acertos, pois, claro, estes últimos não são mais que nossa obrigação. Enfim, entre agruras e lamúrias, estamos avançando. Devagar e sempre.
No entanto, o dia de hoje é de comemoração. E temos também o que comemorar. A tradução no Brasil conta com profissionais excelentes, tanto nas áreas técnicas quanto na editorial; também temos intérpretes fantásticos e requisitados. A área acadêmica no Brasil é respeitada em todo o mundo, mesmo com todas as dificuldades que enfrenta. Temos um dos maiores congressos de tradutores e intérpretes do mundo, o maior da América Latina, e também visto pelos pares estrangeiros com muito respeito e admiração. A área de LIBRAS cresce cada vez mais e nos dá muito orgulho. Não é um mar de rosas, mas nosso mundo tradutório floresce cada vez mais forte e consciente de seu papel.
E para que tudo isso se mantenha, precisamos lutar todos os dias. Mostrar a que viemos, exibir nossos esforços, sermos visíveis com nossas contribuições e nosso empenho para estabelecer pontes de cultura, no sentido mais amplo que pudermos. Temos que deixar de lado a síndrome do impostor, o espírito de vira-lata, de “mal necessário”, e fincarmos o pé na realidade: somos transmissores culturais, intermediários entre povos, mensageiros da alteridade. Sem nosso trabalho, o mundo ficaria um tantinho menos colorido. Como George Steiner disse: “Sem a tradução, estaríamos vivendo em províncias que fariam fronteira com o silêncio”.
Viva a tradução! Viva as tradutoras, tradutores e intérpretes! Viva São Jerônimo e Xangô! E vamos em frente.