Vinte e quatro horas

Acho que todo mundo já fez este cálculo um dia: 24 horas, menos 8 de sono (quando dá 8), menos 2 de almoço e jantar, mais uma pra um café e um lanche da tarde… sobram 13 horas no dia. Se a gente trabalha mais umas 8, 9 horas… sobram cinco para lazer ou coisas prazerosas da vida.

Tira mais 3 de transporte, sobram duas… neste momento as contas começam a não bater. Pois tem aquela hora perdida na internet…

Mas vamos fazer um cálculo mais correto: 6 horas de sono, 1h30 de almoço e jantar, 20 minutos para o café e lanche, 10 horas de trabalho… mais algumas horas perdendo tempo com redes sociais e outras bobagens. E aí, tá feliz com esse cálculo?

Hoje me dei conta de que estava muito infeliz com esse cálculo. O meu é bem diferente — sou profissional autônomo, trabalho em casa, não tenho o problema do transporte. Duas horas a mais, em média. Também não tenho um tempo certo para café ou lanche da tarde, às vezes duram mais, outras vezes nem existe. E não tenho telefonemas, colegas de trabalho me atazanando, chefe chamando etc. Deveria estar muito mais feliz com esse cálculo.

Mas não estava tão feliz assim. Pois perdia muito tempo com o que não valia a pena. Para citar apenas um exemplo: as tais redes sociais.

Uso um programa de mensuração de tempo, o RescueTime. Gratuito (há a versão paga, que tem milhões de métricas de que não preciso), fácil de instalar e de controlar em todos os dispositivos. O site do programa me manda um e-mail semanal com o dedo apontado na minha cara: quanto tempo gastei efetivamente trabalhando, quanto tempo vagabundei. E não há nem como errar, pois eu defini o que era trabalho (Word, MemoQ, dicionários on-line, sites de pesquisa etc.) e o que era safadeza (redes sociais em geral, YouTube etc.). Assim, eu poderia me enganar. Mas não quis.

E num desses e-mails semanais chegou a triste realidade: mais de 2 horas por dia gastos com Facebook. Duas fucking horas por dia, amiguinhos. Catorze horas semanais, se contarmos sábados e domingos. Em alguns dias o número chegou a três, três horas e meia. Entrei em parafuso: como gastei esse tempo, que não volta mais, nunca mais,  com o Facebook. O que havia de tão interessante no sítio do Markinho Zuckerberg que me cativou por mais de 120 minutos por dia.

Nada.

É triste pensar nisso, mas essa foi minha conclusão: nada.

Sim, eu queria que fosse diferente. Mas não. Não é.

Mas não se choram horas passadas e leite derramado. O negócio era agir. E foi o que fiz, começando por um controle rígido quanto ao uso das redes sociais, não apenas no computador, mas também no celular. Racionalizar o tempo a contento. Acho que muita gente já falou disso, mas será que as pessoas que falam agem também contra essa praga? Pois você lê uma coisa, lê outra, comenta, recebe comentário, vê um inbox e quando viu… 40 minutos. Mas eu me controlei, e me controlo, bastante.
No último relatório enviado por e-mail no domingo: 40 minutos em média de perda de tempo por dia. Um belo avanço, não é? Mas ainda quero diminuir essa marca.

Depois desse controle estrito, pensei em todas as coisas que poderia fazer com esse tempo que me “sobraria” — entre aspas, pois não estava sobrando em lugar nenhum, continua faltando, graças aos deuses (que também deveria vir entre aspas, mas isso é assunto para outro texto). E comecei a fazer outras coisas. Ler mais, por exemplo, alimentar meu lado escritor. Estudar os idiomas com os quais trabalho. Ler mais um pouco. Escrever no blog — minha média de escrita ainda está baixa, mas vou melhorar nisso também. Escrever em geral. Trabalhar com mais atenção ainda, mais empenho. Participar de eventos muito bacanas. Descansar, dormir, namorar. Claro que nem tudo isso coube no tempo economizado longe das redes sociais, mas deu para acomodar algumas dessas coisas, melhorando outras, possibilitando outras tantas.

Se estou feliz? Claro que agora estou feliz com minha gestão de tempo. Se precisa melhorar? Nossa, precisa melhorar muito. Quero voltar a me exercitar a contento. Quero voltar a escrever literatura. Quero ter tempo para coisas bobas da vida, como o ócio criativo — ficar bundando, vendo o tempo passar, pensando em possibilidades, oportunidades, chances de melhorar. Mas para começar já está bem bom passar de 120 ou mais para 14 ou menos por dia.
E sabe o que estou perdendo? Muito pouco. Se comparado ao ganho que vejo todos os dias na minha vida… estou perdendo muito pouco.
E você, está feliz com suas 24 horas?

P.S.: A foto deste post foi tirada e alterada por mim. Mais uma coisa que consegui começar a fazer com o tempo, fotografar.

Texto publicado originalmente no Medium, alterado.

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