Depende…

Uma das coisas complicadas de se discutir em tradução é o erro. Existe uma frase, que podemos até chamar de máxima tradutória: na tradução não existe acerto, apenas erro. E não me refiro à questão da intraduzibilidade nem nada disso, mas diferente do que se apregoa em muitos círculos, os erros são facilmente identificáveis numa tradução (falaremos em breve sobre a objetividade na avaliação de traduções). Porém, há muitas traduções corretas para um mesmo termo, uma mesma frase, um mesmo livro, mas o problema está na adequação. Mesmo certa, será que aquela é a tradução mais precisa? Ou a que mais se aproxima do original? Ou a que mais atende ao público ao qual se destina?

Tenho uma má notícia: muitas vezes, nenhum dicionário, nem compêndio, tampouco glossário vai lhe dar a solução para esse imbróglio. Como disse acima, é fácil identificar e evitar o erro, o falso amigo, a frase canhestra. Porém, é complicado encontrar a voz certa para reproduzir as palavras do autor que traduzimos, é uma tarefa que exige sensibilidade e olhos bem abertos. Diversas vezes, em casa com os meus livros ou nas aulas de tradução que ministro, me deparo com essa questão, pois várias são as formas de se traduzir, umas corretas, outras mais corretas e, outras ainda, perfeitas. E também as que não cabem por um registro mal utilizado, uma palavra em desuso (ou que, na época da história, ainda não era usada – o tal do anacronismo) ou uma expressão pouco conhecida ou mesmo decalcada do idioma de partida. É estranho percebemos no meio do texto, entre as fibras do tecido textual, que há outro texto por trás.

Por isso, as discussões com colegas sempre são valiosas. Trazem ares novos para nosso texto, ideias novas. Revisões e preparações de texto também alertam a gente para o que está errado nas nossas escolhas e também nossos acertos e escolhas felizes. Estudar, analisar a frase, conhecer o autor: em suma, todas aquelas qualidades de um bom tradutor são ativadas no momento em que nos deparamos com “aquela” frase. E o carro chefe é a sensibilidade que se desenvolve botando a mão na massa.

Aliás, uma boa ideia. Vou conversar com a equipe e vamos fazer, juntos, (mais) um texto sobre o que é necessário saber para traduzir. Além do óbvio, é claro.

Abraço e até a próxima.

6 comentários Depende…

  1. Monique 23 de setembro de 2013 @ 11:28

    Ótimo texto Petê. Isso tudo é completamente verdade!

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    1. Petê Rissatti 23 de setembro de 2013 @ 11:31

      Obrigado, Monique. É um texto pequeno, poderia escrever páginas e páginas sobre o assunto, mas em resumo é isso: feeling e trabalho, muito trabalho.

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  2. Camila Fernandes 23 de setembro de 2013 @ 12:15

    Bacana e enxuto, no ponto.
    “E também as que não cabem por um registro mal utilizado, uma palavra em desuso (ou que, na época da história, ainda não era usada – o tal do anacronismo) ou uma expressão pouco conhecida ou mesmo decalcada do idioma de partida.” Ao fazer preparações, eu às vezes topo com esses casos, não só na tradução como também no original.

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    1. Petê Rissatti 23 de setembro de 2013 @ 12:17

      Obrigado pela visita e pela leitura, Mila. 😉

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  3. Isa 13 de dezembro de 2013 @ 08:20

    Ótimo texto! Isso me acontece muito em preparações. Às vezes parece que estou trocando seis por meia dúzia, mas a questão é justamente essa: encontrar a opção mais natural e adequada para aquela frase.

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    1. Petê Rissatti 13 de dezembro de 2013 @ 09:54

      Uma amiga nossa, a tradutora e preparadora Cláudia Mello, sempre diz: numa preparação, nem todo seis é meia dúzia. Obrigado pelo comentário e pela visita, Isa.

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