Esta é uma briga antiga, quase tão antiga quanto a profissão. Existem muitos teóricos que se debruçaram e dedicaram a vida a essa questão tão intrigante que é a invisibilidade do tradutor, não apenas dentro da obra, mas perante o público. Porém, é difícil se conformar com a ideia de que, em 2012, quase chegando ao tão comentado fim do mundo, alguém que se preste a divulgar o universo editorial na mídia não atente para um fato importantíssimo: obras traduzidas tiveram um tradutor por trás dela. Parece uma afirmação idiota, mas parece, de verdade, que os caras ainda consideram a tradução uma profissão menor, que não se deve dar crédito à pessoa que durante meses da vida trabalhou incansavelmente para trazer aquela obra ao português.
Já falei sobre isso aqui, inclusive sobre a revista Bravo!, que não atentava para esse “detalhe”, hoje dá o devido crédito aos tradutores. Devem ter recebido muitos e-mails, da minha parte foram no mínimo uns 20. E o que suscitou esta variação sobre o mesmo tema? Uma biografia.
Denise Bottmann, tradutora, conhecida pelo seu blog não gosto de plágio, ficou muito feliz ao receber em casa Van Gogh – A vida (Cia. das Letras). Ela trabalhou um tempão nesse livro e fez até outro blog para registrar suas impressões, estratégias e outros fatos interessantes do processo. E a mídia, nesta semana, começou a divulgar o lançamento da esperada biografia. Sem qualquer menção à tradutora. Ao menos três veículos de destaque, a Época, a IstoÉ e O Globo fizeram matérias imensas, sem mencionar o nome dela.
Será que ainda veremos um momento no qual os tradutores serão respeitados de verdade?
Espero um dia não precisar mais escrever sobre isso. De longe, parece uma questão menor, mas não é. Se não fosse pelas mãos dos tradutores, nosso conhecimento, este bem cada vez mais precioso, seria muito menor.
ATUALIZAÇÃO
Não contente com o texto, fui procurar notícias sobre um livro que traduzi e acabou de ser publicado (Não tenho inimigos, desconheço o ódio, de Liu Xiaobo, L&PM Editores, lançamento oficial no dia 10 de dezembro). Eis que encontro um texto da Época (clique aqui), com diversas informações importantes, com trechos do texto e… sem indicação do tradutor. Por outro lado, uma nota na coluna Babel, d’O Estado de São Paulo, por Maria Fernanda Rodrigues em 17 de novembro, traz a informação certinha, com créditos ao tradutor. Não custou nada, apenas quatro palavrinhas que fazem muita diferença para o profissional que recriou o texto em português.
Para concluir a atualização, deixo para vocês o booktrailer do livro do Liu Xiaobo: