Quando li o título do livro de Marcelo Maluf, Esquece tudo agora (Terracota editora), sabia que a viagem seria profunda. O autor, tão experimentado na difícil arte da literatura infanto-juvenil (por exemplo, Meu pai sabe voar, da FTD, feito a quatro mãos com sua mulher, Daniela Pinotti), arrisca-se agora no conto adulto e não decepciona. Muito pelo contrário, da experiência com a fantasia ele teceu contos que desafiam, que exigem um mergulho profundo no universo criado por Maluf. No conto inicial do volume que dá nome ao livro, ele pede algo impossível para o leitor: esquecer dos 20 contos tramados por esse escritor de mancheia.
Em alguns contos, como Esquece tudo agora, ¿Qué pasa, señora? e A primeira bomba, sente-se um tom mais sombrio, algo dos dilaceramentos do cotidiano, das escolhas que fazemos e que nem sempre nos levam ao melhor, das faces mais estranhas da tristeza humana. Em outros, como O especialista e Transcendência, o humor surge não de forma histriônica, risível, mas sutil, quase subreptícia, aquele que deixa apenas um esgar de sorriso no canto da boca. É um livro feito de estranhamentos, de surpresas, como uma montanha-russa literária. Pode causar sustos à primeira vista, mas quanto mais fundo se vai no universo de Maluf, mais se compreende a beleza de seus contos e o compromisso que ele selou com a literatura: um fazer cuidadoso, bem alinhavado que, no entanto, deixa propositadamente entrever as fibras de nossos próprios dramas e confusões. Para ser lido de uma tacada só, num fôlego só para depois tentar atender ao pedido de Marcelo: esquece tudo agora.
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