Escrever é como cuidar de um bonsai.
Acabo de ler Bonsai, de Alejandro Zambra (Cosac, tradução de Josely Vianna Baptista). É o tipo de romance (ou novela, se preferir) que eu gosto: curta, direta e na qual as surpresas não estão no fim, masno durante (como “A travessia de Eva“, do qual já falei aqui). Não sei como foi a construção deste livro,mas acredito que tenha sido como um verdadeiro bonsai: todos os excessos, histórias paralelas, firulas e afins foram extirpados antes de se avolumarem, o que resultou num livro certeiro, uma história de amor provável, crível, mas de modo algum previsível. Conta sobre o amor de Julio e Emilia, dois estudantes de Letras no Chile, e como a vida de um (Emilia) termina na primeira frase do livro e como a vida de Julio continua, mas não continua de verdade, vira um arremedo de vida entre a falta de dinheiro e a vontade de se encontrar num mundo que parece feito para sacaneá-lo. E são tantas outras camadas que o livro pequeno, de 91 páginas, traz que com certeza vale uma releitura para escarafunchar um pouco mais a vida do casal e imaginar o entorno, os contornos e chegar até a raiz. Pois o que Alejandro dá para a gente é uma planta pequena, mas meticulosamente criada.