Acabei ontem de madrugada a leitura de Como me tornei estúpido, de Martin Page (Editora Rocco, Coleção Safra XXI, 158 páginas) e me deparei com uma questão bastante intrincada: até onde ser estúpido é bom e até onde não ser é vantagem? O livro trata da história de Antonie, um jovem gênio, estudioso de sânscrito e cônscio do mundo em que vive, mas por tudo isso sofre com sua inteligência, pois não consegue parar de pensar em como o mundo é vil, sobre como as pessoas são fúteis e intragáveis e sobre os terríveis meios de se chegar ao sucesso às custas do alheio. Não come industrializados, nem usa roupas de marca feitas por crianças chinesas de 5 anos, nem assite televisão. Certa feita, cansado desse sofrimento e de seu isolamento em um mundo de vigília constante dos males do mundo, resolve virar alcoólatra, depois suicidar-se e, por fim, levanta a bandeira da estupidez como último recurso para se livrar de sua dor. Com muito medo, mas embuídos do sentimento de carinho, seus poucos amigos o apóiam, mas prometem que se ele se tornar “um estúpido muito babaca”, vão tomar providências. Então começa a saga de Antonie para se estupidizar e fazer parte da massa não-pensante.
Ao final do livro, pensei comigo: olha, sou deveras estúpido, mas não ao ponto de não enxergar a grande crítica à sociedade moderna, consumista e destruidora na qual vivemos. Se sofremos os males modernos, como estresse, ondas de frio e calor repentinas, desastres naturais, desigualdade sociais, é por que ignoramos em nossa estupidez o outro, aquele que está ao nosso lado, deixamos de lado as coisas gostosas, simples e importantes da vida e damos lugar ao supérfluo como necessidade, contrariando uma lógica bem elementar do bem-viver. Apesar de não ser um livro ao qual se dê classificação 5 estrelas, serve bastante para repensarmos algumas coisas em nossa própria vida e como podemos ser melhores para o próximo. Basta estender a mão, sempre terá alguém a procura de um apoio. Basta entender o irmão e não abandoná-lo quando ele gritar por socorro do fundo do poço. Se sempre ter amigos, aqueles de verdade, que não nos deixarão cair sem saber por que caímos e nem nos deixarão no chão quando puderem nos acudir.
Simples assim, a literatura é mais que diversão e prazer. Recomendo o livrinho.
Confesso que às vezes gostaria de ser estúpido e alienado. O estúpido passa por bobo, mas nem percebe; o alienado não quer nem saber do que acontece ao seu redor, por isso não sofre pelos outros.
Quanto tempo vai demorar esse blog?
Agora que já terminou de ler o livro vc já pode me emprestar, né? rs