“Quase todos ali dentro tinham a nítida sensação de que seriam
infelizes para sempre. E foram.” (Aqueles Dois, do livro Morangos
Mofados)Ontem à noite, antes de dormir, resolvi revolver um pouco o terreno fértil da minha pequena biblioteca. Duas da manhã, após rosquear o bocal do chuveiro que quebrei no domingo e depois de um banho restaurador, peguei Morangos Mofados, o único livro que tenho de Caio Fernando Abreu, e tomei o conto Aqueles Dois para embalar meu sono. Já havia lido outros contos, de forma aleatória, do Morangos, livro da Editora Agir que, pelas minhas fontes, está esgotado. Privilégio tê-lo comigo, o mesmod e redescobrir a graça dos contos de Abreu.
Gaúcho de Santiago do Boqueirão, nascido em 48, nasceu escritor, produzindo seu primeiro conto quando menino e aos 19 anos estréia com o romance Limite branco. Depois de morar aqui em Sampa, para trabalhar como jornalista em renomados jornais no fim dos anos de 1960, parte para o Rio, depois viaja para Estocolmo e Londres. Volta a São Paulo em 1981, onde continua sua carreira de jornalista, agregando as funções de escritor e editor de livros até sua morte, em 1996, em Porto Alegre.
Caio tem uma linguagem solta, brincalhona, como de quem fala o que escreve, e escreve como fala. De uma percepção de sintonia fina e temas escolhidos a dedo para esculhambar a sociedade careta e covarde, desentranha o que há de lindo e feio, de fresco e de podre na alma humana. Seus contos são de uma velocidade alucinante, em geral quedas vertiginosas em poços infindáveis… ao mesmo tempo, há a sensação do bucólico, do matinal, das antigas agruras e dores do ser.
Não li muito dele, alguns contos esparsos e o Morangos. Agora preciso de mais morangos mofados, mais Júpiteres e mais inventários ir-remediáveis para sentir de verdade o Caio Fernando Abreu, um gigante pouco explorado de nossa literatura contemporânea.
E vocês? Já leram algo dele? Que acharam? Espero comentário…
Redescobrindo o mofo do morango
(Foto retirada do site Rabisco)