18:44 – Olho para os lados, venta muito na rua. Olho os postes com sua luz amarela que se espalha pela rua, dourando os rostos dos poucos passantes.
18:45 – Respiro fundo para atravessar a rua, entre os faróis que quebram o amarelo-cera dos postes antigos. O frio ainda castiga a pele, sinto o ressecamento (18:46) por entre os dedos regelados, arroxeados pelas rajadas de vento estranhas que vem do Vale do Anhangabaú, da rua são Bento e de todos os cantos.
18:47 – Ando rápido, mais rápido do que posso, quase aos tropeções subo toda a Líbero Badaró até o viaduto do Chá. Aos pés da prefeitura vejo alguns aglomerados, talvez resquícios da greve dos perueiros ou transeuntes que se interessam pela gravação dos flashes (18:48) dos jornais noturnos. Luzes, uma câmera grande num tripe preto reluzente, uma moça muito bonita e maquiada à frente das luzes. Um papel preso ao suporte da luz dá (18:49) o texto que ela lê com naturalidade, como se divulgasse uma notícia que ela presenciara, sabia de cor. De cor, coração, geladinho com esse frio arrebatador.
18:50 – No viaduto do Chá as pessoas correm de um lado para o outro. Ou eu que estou lento demais, sentindo o regelar dos pés, das mãos e do rosto. Meus óculos sujos protegem os olhos, mesmo assim lacrimejam dolorosamente, talvez pelo frio. Tossindo, cruzo o viaduto do Chá em direção (18:51) ao shopping Light, não não entro nele. Páro no semáforo logo a sua frente e admiro encantado o Mvnicipal iluminado. Sigo a direção de suas luzes e percebo, não sem um breve susto, que algumas pessoas dançam em suas escadarias. É um balé moderno, (18:52) que mostra o ritmo de bate-estaca vivido por muitos de nós, paulistanos ou não. Os bailarinos acompanham os toques ritmados de um saxofone, muito bem tocado, mas com compasso repetitivo (18:53). Atravesso a rua em direção ao Theatro, saindo de minha rota habitual, e admiro a dança cadenciada, que mostra o quanto somos condicionados ao ritmo da Grande Metrópole e nos esquecemos que somos humanos, (18:54) não maquinetas de produzir isso ou aquilo, de vender aquel’outro ou isso daí. Deitados, em pé, sobem e descem as escadarias, num toc-toc-toc acompanhado pelo soprar do sax. Está bem frio, mas eles não se importam: em mangas (18:55) de camisa, ou colán para as meninas, deitam-se no chão úmido de tão frio dos mármores teatrais, sob a sacada ornamentada rodopiam.
18:56 – Olho no relógio, preciso ir. Me entregar ao bate estaca também. Ajusto o fone de ouvido, ligo o iPod, procuro a música. Último adeus… Hoje você me abala, mas não me anula… não, Relampiano… Tá relampiano cadê neném… (18:57). Coloco na opção Músicas aleatórias, não gosto da primeira, nem da segunda. Páro na terceira (18:58), Better, Regina Spektor. Tudo vai ficar melhor sim, mas quando eu entrar no meu apartamento, que antes era um deserto e agora é aconchego, é lembrança boa e saudades (18:59), ansiedade para que chegue o dia… Caminho por entre os vultos paulistanos, hora do rush, fim de expediente. E (19:00) adeus…