Apaixonamento

O processo de apaixonamento mostra-se como uma progressão de sensações e fatos que, muitas vezes, confunde-se com doenças degenerativas ou crônicas. O mais grave desse processo são os primeiros dias, nos quais há uma grande resistência ao fenômeno, proporcional ao número de vezes que as paixões não foram correspondidas ou acabaram em relacionamentos mal-fadados. Há diversos sintomas que se podem enumerar e que, todos que se apaixonaram alguma vez na vida, sentiram ou sofreram dele.

O primeiro sintoma de apaixonamento verifica-se na resistência. As lembranças de relacionamentos passados que não deram certos vêm à tona, tentando minar as chances de apaixonamento, como uma imunidade contra um sofrimento previsto pelo consciente, mesmo que subconsciente não registre nenhuma estatística de certo ou errado.

Passado esse período crítico, no qual a tristeza do passado se mescla com a esperança de um futuro melhor, chegamos a um dos períodos críticos do apaixonamento, que é a distração. Não se lembrar onde colocou as chaves de casa, esquecer guarda-chuva no táxi, não saber o dia da semana são algumas das distrações básicas de quem sofre do apaixonamento. E mesmo tudo dando errado, por conta das distrações e afins, o mundo ainda assim parece lindo.

O sorriso abobalhado no rosto também denota que o apaixonamento tomou conta de alguém. Cantar músicas românticas em alto em bom som, seja no próprio banheiro, na fila do banco ou andando pela cidade também mostra o quanto alguém está apaixonado. Frio na barriga, calafrios pelo corpo, vontade de ver, abraçar, beijar… tudo isso com aquele medo de que uma hora tudo se acabe, então se tenta aproveitar ao máximo o objeto da paixão, ou seja, a outra pessoa, pois a paixão dá uma impressão de “último dia” bastante desesperadora para quem é acometido por ela.

Num determinado momento, o apaixonado começa a ter certeza que aquela pessoa será dela para sempre. Certeza bastante incerta, pois nunca se sabe o dia de amanhã. Mas uma coisa é mais do que certa em todo esse processo quasi-patogênico que é o apaixonamento: dificilmente inventarão uma coisa tão deliciosa quanto ser pego por esse mal divino.

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