Trago até a boca o copo plástico, branco. O café pretinho aquece meu peito frio. O cheiro, o gosto me levam a um tempo longínquo, do cheiro de café pela casa e meu encantamento ao ver minha mãe prepará-lo com tanto esmero, tanto carinho. Era apenas para seu próprio consumo, claro, e talvez meu no lanche da tarde, mas era um ritual demorado, desfrutado. Água para esquentar até as bolhinhas começarem a surgir do ferventar, o pó no coador de plástico em filtro de papel, quatro colheres de sopa de café e a água sendo despejada em círculos sobre o pó marrom. Depois para a xícara que eu pegava nas mãos para esquentá-las nos dias frios de julho, e esperava cair o leite tingindo o preto e deixando aquela cor de caramelo do café-com-leite, coisa tão nossa.
De volta ao passado, vejo minha mãe tomando o cafezinho dela com pão e manteiga e uma lágrima de saudade brota dos meus olhos. O jeito que ela dobra a toalha até hoje pra que as migalhas de pão não caiam no chão, dobrinhas delicadas dos dedinhos pequenos, mas fortes. Os vincos nos cantos dos olhos, desde muito cedo, mostram que a vida não foi caridosa com minha mãe, mas nem por isso ela esmoreceu. Criou ao meu irmão, a mim, com todo amor e respeito, mostrando o limite e a liberdade de cada um, o que se devia e o que não se devia fazer e, a partir daí, a escolha era nossa. Claro, meu pai sempre junto dela, eles sempre unidos pra educar os filhos da melhor maneira, apesar de não terem a educação formal, tão estupidamente valorizada e que nem sempre dá os frutos esperados.
Há quatro anos eu mesmo faço meu café quentinho, em xícara bonita e café até meio “frescurento”. Esse é o tempo que moro sozinho, longe das saias da mamãe. Mas na minha cabeça e no meu coração sempre estará a baixinha invocada que eu tanto amo. Mãe, mesmo que você nunca tenha a oportunidade de ler esse post, por todo amor quentinho e café fresquinho, eu te amo cada dia mais.
PS.: Vou imprimir o post pra ela ler, claro…