O que você aceita?

Hoje, na comunidade de tradutores do Facebook, uma colega fez um desabafo. Recebeu uma proposta indecente de uma editora, totalmente fora do mercado. O desabafo rendeu, pasmos que ficaram os membros da comunidade, e me inspirou para fazer este post. A pergunta retórica acima leva a muitos pensamentos que ficaram pendurados na postagem da colega, nas opiniões que fizeram uma coluna bonita no meio da comunidade.

Como a própria colega disse, não adianta brigar. Vai ter gente que aceitará o tal preço sem chorar, rindo ainda por cima. Talvez por não estar no mercado ainda, por necessidade, por desinformação. A minha questão é: o que cada um aceita é problema dela, mas e o restante da classe? Por mais desunida (e hoje a situação está um pouco mudada) que seja a classe tradutória, o mínimo para alguém que se denomine tradutor é estar atento. Sua hora vale tantas merrecas? A mixaria, que mal dá para compensar o que você gastou de energia (elétrica,  vital, intelectual) na realização da tarefa, pagará tempo que você não vai passar com aqueles que você ama, os finais de semana, o ócio tão bem-vindo, o estudo e a leitura perdidos quando o chequinho magro bater na sua conta?

Não saio por aí dizendo que sou o tradutor mais bem pago da paróquia, nem gritando meu preço a quatro ventos, mas eu me respeito. E honro minha palavra quando caio numa roubada, por exemplo, uma preparação que duraria duas semanas e levou quase um mês de tão ruim que a tradução estava. E se cada tradutor pensasse duas vezes antes de pôr tudo que ele aprendeu a serviço de canalhas que se aproveitam das mínimas oportunidades, com certeza não teríamos posts como este.

6 comentários O que você aceita?

  1. Ana Paula C. Viegas (@anapviegas) 29 de agosto de 2012 @ 19:32

    Perfeito, Petê. Quem aceita uma tradução com um preço desse e apresenta uma caca de serviço nem é profissional. Tradutor profissional. Se aceitou, faça bem feito. E quando (e se) se tornar um profissional, essa pessoa vai perceber que ajudou a prejudicar o mercado e sua própria carreira… Acho que em todas as profissões existe isso. Por isso, é importante levantarmos e debatermos essas questões quando elas surgem.

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  2. Fabi Medina 29 de agosto de 2012 @ 20:14

    E isso, sem dúvida, serve para preparadores e revisores.
    Confesso: quando estou do outro lado, o da editora, e me vejo obrigada a oferecer pouco por um serviço que acredito valer mais, a tristeza é ainda maior. Uma violência, eu diria.

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    1. Petê Rissatti 29 de agosto de 2012 @ 20:44

      É triste. Eu também já estive do outro lado e brigava o tempo todo pra melhorar a situação dos tradutores, pois meu objetivo era se tornar um. E me tornei e agora brigo deste lado apenas por uma coisa que deveria ser básica em toda relação: respeito.

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  3. Zeca 4 de setembro de 2012 @ 10:41

    Sinceramente, na situação atual eu acho bom quando cada um cuida da própria vida. Se eu passar a ditar regrinhas para os mesmos colegas, eu diria que mais de 100 páginas por mês em alta literatura prejudica o mercado, aceitar que façam alterações sem que você veja o produto final e as aprove prejudica o mercado, aceitar pagamento pelo serviço apenas sem direito autoral prejudica o mercado também. Aceitar que exijam nota fiscal também (ter empresa não faz sentido num trabalho intelectual individual).
    Quero saber quem não é culpado de ao menos uma dessas coisas. Todos nós aceitamos condições inaceitáveis ou estaríamos fora do mercado. A regulamentação da profissão, com uma associação obrigatória para exercer a profissão (como acontece com advogados e tantas outras categorias) é a única medida que pode engrossar a voz da categoria, porque esses lamentáveis chilros de indignação contra os colegas (e não contra quem nos oprime) não levam a lugar algum.

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    1. Petê Rissatti 4 de setembro de 2012 @ 12:07

      Exatamente isso, Zeca. Meu problema não é com quem aceita, mas com quem oferece esse tipo de coisa. E, se você acha inútil falar, desculpe, mas se ninguém fala, a coisa não muda.
      Abraço.

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