Imaginem a situação: seu pai, mãe, irmão ou amigo faz o seguinte e ingênuo pedido:
Posso ver meu e-mail no seu computador?
Você, mais que solicit@, fala Vai lá, fique à vontade. E sua tradução está aberta na tela. E a última linha, aquela atrai os olhares mais resistentes, traz a frase:
E aí, vai um boquete?
A pessoa olha. Olha novamente. Olha de novo e não acredita muito no que vê. Não pode ser! Como a pessoa escreve isso numa tradução?
É, nem só de frases lindas é feita nossa profissão. Às vezes nos deparamos com a situação na qual é necessário escrever o que está lá, sem floreios nem atenuações. Afinal, esse é o nosso trabalho, recriar de braços dados com o texto de partida e muitas dessas recriações exigem toques mais crus, menos floreados. Talvez isso seja um esforço grande para os mais pudicos, mas para a maioria de nós é apenas trabalho. Sempre discuto com amigos e peço a opinião deles sobre uma palavrinha de baixo calão utilizada numa tradução, qual seria o peso daquele termo aqui e “lá” e como melhor expressar o que o autor deseja passar.
Numa dessas discussões, uma amiga comentou: “Fiquei fula da vida, pois o autor claramente usava bunda e a revisora trocou tudo para bumbum. Aquela personagem nunca falaria bumbum!” Por isso é necessário ter tato para saber quando um fuck não passa de um “pô”, ou até mesmo um “poxa” e não um “porra”. Quando um scheißegal não precisa do primeiro elemento para dizer “tanto faz”.
Sim: contexto é tudo.
Por isso, todo cuidado é pouco. Muitas vezes, nem tudo o que reluz (ou fede) é ouro (ou merda).
hahaha! excelente e bem colocado.
Confesso que livros que começam a usar palavrões e palavras pesadas me incomodam. O que estou lendo agora tem “boceta” pra tudo que é lado – e essa é uma das palavras que eu menos uso. Devo ter falado 3 vezes na vida, sempre citando algo que alguém disse… Vou desistir de ler.
Sou pudico. E daí??? Humpf.
rs