Pelas tantas da minha leitura atual, O complexo de Portnoy, de Philip Roth (Cia. das Letras, excelente tradução de Paulo Henriques Britto), a personagem Alex, desabafando com o terapeuta suas agruras com a família, comenta que seu pai pensa a todo o momento nas “redes de segurança” que as pessoas devem ter durante a vida e não têm. Essa necessidade de segurança (o pai dele é corretor de seguros) é um dos elementos que fazem com que Alex busque o terapeuta para entender seus antagonismos, sendo ele um advogado bem sucedido e, ainda assim, infeliz.
Pensei muito nessas redes de segurança. E na nossa profissão-perigo.
Nós também temos uma rede de segurança (ou várias). Essa rede precisa trazer segurança ao tradutor e ele precisa ter em mente que essa rede não deve de forma alguma levá-lo à negligência. Por isso, deve ser um exímio acrobata, conhecer a corda na qual ele fará suas peripécias e dominar seus recursos como ninguém. Quase chover no molhado, essa história de entender do riscado, mas cada vez mais vejo como as pessoas não dão valor à própria profissão. Pessoas que se dizem tradutoras e se arvoram o direito de ensinar o Padre Nosso ao vigário. Que exigências fazer ao cliente se a contrapartida manquitola em frases mal escritas, imprecisões vocabulares e terminológicas?
“Vou fazer aqui qualquer coisa e a rede que me segure – o revisor, o preparador ou seja lá quem for.”
Ninguém é perfeito, nunca será. Erros acontecem. Há pouco, soube de um num livro que traduzi, quase morri de catapora. Apesar de o erro não prejudicar a compreensão do todo e a pessoa que achou o tal erro ter elogiado a tradução, me doeu como se todo o livro estivesse errado. Mas quando a gente vê um texto que simplesmente não foi bem tratado, que não houve interesse por parte do tradutor em pesquisar o melhor termo, o ritmo e todas as outras coisas que já sabemos (ou deveríamos saber) ao botar a mão na massa, nem nada disso, dá tristeza. Pelo desrespeito ao profissional que eu custei anos para admitir ser, por me chamar tradutor e saber que tantos que trazem o mesmo nome no peito não deveriam fazê-lo, não com tanta empáfia.
Perdoem o desabafo. Poucas coisas me tiram do sério. Uma delas é a falta de compromisso, não com uma pessoa, mas com uma classe inteira de profissionais.
eu ia fazer um comentário sobe o roth, mas aí seu post mudou tudo e eu fiquei sem ter o que dizer. =P