Por acaso, hoje me caíram na mão duas mensagens sobre tradução automática (oi, Google Translate, já ouviu falar?), uma pessimista (ou sensacionalista com intenção de chamar público para uma palestra) e outra otimista. Por motivos éticos, me abstenho de identificar a primeira, digo apenas que tinha algo a ver com tradutores dizimados pelo poder dos programas de tradução automática. A segunda veio na edição de março de 2011 da ATA Chronicles, revista da ATA (American Translators Association) e esclarece alguns pontos sobre tradução automática e um deles já era previsto: ela está cada vez melhor. Ao colocar um texto sem muitas elocubrações num tradutor automático (e o mais preciso de acordo com os testes feitos pelo autor do artigo, Grant Hamilton, é o Google Translator), podemos conseguir um texto legível, muito diferente do que há pouco essas ferramentas produziam. Um ajuste aqui, outro ali e voilá, temos um texto razoável. O teste foi feito do francês para o inglês, idiomas com estruturas parecidas, mas diferenças vocabulares imensas e, mesmo assim, ele se saiu bem. Então, será que viraremos grandes revisores do que as máquinas executarem? Não é bem assim, como também comenta Hamilton. Prova disso é a tradução que ele apresenta, feita por uma pessoa de carne, osso e loucuras, que consegue transformar o texto asséptico, traduzido quase como um decalque (palavra por palavra), numa frase criativa. E esse é o ponto que ele chegou e no qual quero chegar: a criatividade. Coisa que por enquanto apenas os humanos (nem todos, diga-se de passagem) possuem e utilizam (novamente, nem todos) para se sobressair à rapidez e precisão da máquina. E qual é o segredo para o cultivo dessa criatividade? Não tem muito segredo além da dica de Grant Hamilton, nenhum segredo para quem está no ramo da tradução, que deve obrigatoriamente fazer parte da vida do tradutor: leitura, leitura e muita leitura no texto fonte e, principalmente, no texto alvo de tudo que você puder. Tudo que seja útil para despertar em você novas noções e soluções de escrita, estudo profundo do idioma alvo é outra coisa imprescindível, mas não apenas em sua norma culta e bela, mas nos seus desvios e desmandos, pois é disso que o ser humano é em grande parte feito. Saber impecavelmente para poder pecar, conhecer meandros e reentrâncias do corpo da língua, cada dobrinha deve ser devassada para que você possa ousar. Dica velha, mas que é válida e necessária para que as teorias do caos alardeadas alhures não acompanhe você nos seus sonhos e se tornem pesadelos.
PS.: Aos poucos vou transformar este blogue num portfólio apenas. Mas o blogue não vai acabar, já estou preparando surpresas (é, eu não sossego mesmo).