Primeiros passos

Quando decidi pela carreira de tradução, exatamente na primeira aula do curso de Letras – Tradutor e Intérprete na Faculdade Ibero-americana (posteriormente, UNIBERO), não sabia o que me esperava. Cheguei lá meio por acaso, sem saber direito o que era tradução, quais eram os requisitos básicos para a profissão, perdido no meio de pessoas que aparentemente sabiam o que estavam fazendo ali. Incentivado por uma professora do ensino médio, a Lérida, que se admirava com um aluno que se interessava tanto por inglês. Porém, eu queria fazer artes cênicas, mas a vida do ator eu já sabia mais ou menos como era, fiz teatro amador por alguns anos antes de pensar em outra carreira. E lá estava eu. Perdido.

Onde eu tinha amarrado o meu burro?

Porém, aquela aula, a primeiríssima, foi fundamental. O saudoso prof. Fernando Dantas estava lá na frente e com aquele jeito tranquilo e seguro nos conduzia pelo que acredito hoje ser um portal, o do mundo das letras estrangeiras, estranhas, alheias, e nos deu uma missão, uma “tarefa” impossível: trazer essas letras para o nosso mundo. Naquele momento, eu disse a mim mesmo: é isso que desejo fazer para o resto da vida. No primeiro ano, aspirações mil, inspiração a mil, fiz um teste de tradução numa grande agência de SP. Não deu outra, reprovado! Porém, guardaram meu currículo com carinho, eu tinha um futuro promissor como revisor.

Dois anos mais tarde, lá estava eu, fazendo teste para revisor da tal agência, mas sem lembrar que era a mesma agência para a qual eu havia feito teste para tradutor tempos antes. E dessa vez a história mudou: aprovado, logo comecei a dar meus primeiros passos de verdade no mundo da tradução. E fiz de tudo: revisão, copidesque, pesquisa de documentos, planejamento, gerenciei uma equipe fantástica, fiz amigos e conheci alguns dos meus mestres da área. Mas ainda faltava alguma coisa. Um sonho que estava numa gaveta, esperando a hora de entrar em cena. Foi quando enlouqueci e resolvi estudar alemão. Tinha um propósito, claro, trabalhar com o idioma, apesar das perspectivas nada animadoras. Cheguei a ouvir de uma alemã de berço: “Vai demorar 5 anos para ele conseguir ler um parágrafo em alemão”. Em dois anos, estava fazendo minhas primeiras traduções da área societária do alemão, em 3 anos entrei para a especialização em tradução alemão-português na USP  e, em 4 anos, fiz a tradução do meu primeiro livro (que, infelizmente, não saiu com a falência da editora). E aí as coisas degringolaram. O tal bichinho editorial me picou. E o desejo de me dedicar aos livros, que estava latente, no fundo da minha cabeça, despertou com tudo.

Daí para jogar tudo para o alto foram alguns pulos. Um pulo até Cuba primeiro para um congresso de germanística. Depois, outro pulo até a Alemanha. Entre um pulo e outro, traduzi o segundo livro (o primeiro publicado). O terceiro pulo foi o mais largo: 11 anos depois de trabalhar para a mesma empresa, disse adeus e fui enfrentar a vida de autônomo por completo. Até aí, mais duas traduções minhas já haviam sido publicadas. E outras editoras chegaram, algumas foram embora, muitas me abraçaram de verdade e cá estou, chegando em breve à marca dos 30 livros traduzidos. Um começo de carreira ainda, suado, sofrido, mas do qual me orgulho muito.

E as pessoas que conheci nesse terceiro pulo foram fundamentais: editores, revisores, preparadores, escritores e outros tradutores que fizeram e fazem parte da minha vida. Ajudaram e ajudam muito nesse passos que, muitas vezes, acho grandes demais e, no final, se provam na medida da minha vontade. Três delas, em especial, me acompanham desde o meu “nascimento” no mundo das editoras. Elas três estão aqui do meu ladinho, contando suas histórias, experiências e vivências tão ricas entre os livros. São os três alicerces da minha ponte de letras, três amigas, companheiras nessa viagem muito louca que é a tradução editorial.

Ainda bem que foi aqui mesmo que eu amarrei o meu burro…

8 comentários Primeiros passos

  1. Carolina Caires Coelho 30 de agosto de 2013 @ 21:35

    Tantas coisas em comum e ainda um professor querido nesse meio. 🙂 O Fernando Dantas foi uma inspiração na minha carreira.

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    1. Petê Rissatti 30 de agosto de 2013 @ 21:38

      Fernando Dantas é o que todo tradutor deveria querer ser quando crescer.

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  2. Camila Fernandes 16 de setembro de 2013 @ 22:41

    Obrigada a vocês quatro por terem criado este blog. Uma das coisas que mais têm me ajudado no momento – mais até do que cursos de teoria e prática tradutória, pra dizer a verdade – é conhecer um pouco da história daqueles que vieram, viram e venceram. Cada um traça seu caminho, e eu estou só começando o meu. Obrigada por saírem na frente e deixarem pegadas de inspiração.

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    1. Petê Rissatti 16 de setembro de 2013 @ 22:43

      Mila,

      Espero que ainda possamos dividir muitas histórias bacanas aqui, não apenas as nossas, mas as do leitores e amigos do blog. Obrigado pelas palavras sempre carinhosas.

      Beijão,

      Petê

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  3. Bia Bernardi 17 de setembro de 2013 @ 13:34

    Petê, inspiradora tua história! Mostra que é querendo que se chega lá! Por isso tanto sucesso, menino! Agora entendi! 😀
    Grande beijo!

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    1. Petê Rissatti 19 de setembro de 2013 @ 21:02

      Bia, obrigado pela visita. E fique de olho, muita água vai rolar embaixo desta ponte. 😉

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  4. Danielle Sales 23 de setembro de 2013 @ 16:45

    Ah, o saudoso Fernando Dantas!

    Petê, muito legal a sua história. Fico contente por ter participado de um pedacinho dela, enquanto estávamos na faculdade.

    Parabéns pelo blog!

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    1. Petê Rissatti 23 de setembro de 2013 @ 16:48

      Obrigado pela visita, Dani, e espero que curta os próximos posts (já tem um novinho em folha hoje). Beijo.

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