Errando e aprendendo

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Os erros são parte importante da vida.

Algo que faz parte da vida de todos, mas que fica cada vez mais difícil de as pessoas aceitarem: o aprendizado com erros e acertos. Todos estamos fadados a errar e ter a glória do acerto na conta, mesmo assim poucos se dão conta do valor da falha na vida de todos. Cada vez mais as pessoas tentam jogar seus erros para debaixo do tapete e expor acertos como troféus de uma vida ilibada. Ora, se todo mundo erra, por que teimamos em nos esquivar e às vezes atribuir ao alheio a nossa falha? Assim fazem os pais, quando não aceitam que seus filhos têm problemas, que muitas vezes foram causados por eles próprios, ou quando fazemos vista grossa aos defeitos de nosso amor para evitar atritos. Até mesmo entre amigos, muitas vezes, temos medo de repreendê-los e, ao meu ver, a partir do momento no qual não temos a liberdade de dizer a quem gostamos que ele ou ela está errado (ou nos melindramos ao ouvi-lo), não há amizade sincera.

Tenho uma historinha sobre os erros e a capacidade de aceitá-los para melhorar. Numa aula de pós, o prof. João Azenha nos apresentou um trecho de um livro traduzido e pediu para que apontássemos os problemas daquela edição, comparando-o com o original. Na primeira parte da aula encontraríamos os problemas e discutiríamos na segunda parte. Quando a segunda parte da aula começou, houve um bombardeio: eram erros recolhidos por nós, imprecisões que achávamos e outras coisas que eram mais implicações que erros de verdade. Azenha só anotava e dava duas próprias opiniões. No fim, disse algo assim:

— Traduzi esse livro no início da minha carreira, ainda engatinhando na tradução. Suas observações foram ótimas, quem sabe se eu puder um dia refazer essa tradução eu possa usá-las.

Houve um silêncio constrangedor, seguido de risadas. João se expôs, mostrou seus erros e como anos depois conquistou um lugar entre os profissionais mais respeitados. Acredito que tenha feito isso para mostrar o quanto aquele primeiro degrau, meio torto e capenga, fez com que ele chegasse lá. Sem aqueles erros ele não teria aprendido a acertar, sem os acertos os erros ficariam irreconhecíveis. Assim é na tradução e, muito antes, na vida.
Por isso, não tenha medo de errar. A lição estará logo ali, te esperando…

13 comentários Errando e aprendendo

  1. Ana Iaria 11 de julho de 2011 @ 11:14

    Petê, gostei da história do Azenha. Às vezes, leio textos que traduzi há 2 anos e acho um horror. Imagina os que traduzi há 10 anos. Nem colinas há por aqui….

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    1. Petê Rissatti 11 de julho de 2011 @ 11:19

      É Ana, é mais fácil sair por aí aos quatro ventos dizendo que o serviço está acima de qualquer suspeita do que confessar: sou humano, erro também. Cenossões que se creem acima do bem e do mal e esquecem do passado, isto está cheio por aí. Beijo.

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  3. João Vicente 11 de julho de 2011 @ 11:33

    Boa, Petê. Um antigo professor e colega dos meus tempos de UnB uma vez me disse que seu maior medo era voltar a suas traduções antigas, pois inevitavelmente encontraria erros. Ele tinha razão, mas como vamos passar a acertar mais (ou errar menos) se não revermos nossos erros? E uma volta ao passado nos ajuda a ver o quanto caminhamos e melhoramos.

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    1. Petê Rissatti 11 de julho de 2011 @ 11:40

      É isso mesmo, JV. Sem olhar para trás, sem nos darmos conta de tudo que passamos e aprendemos, a caminhada fica um pouco sem sentido, não é mesmo?

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  4. Higor Branco Gonçalves 11 de julho de 2011 @ 11:44

    Também gostei bastante da história do Azenha, me lembrou um exercício mais ou menos na mesma linha que fiz no 1º semestre da faculdade.

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  5. madameminn 11 de julho de 2011 @ 11:48

    Lapidar, Petê! Ter a consciência do erro próprio exige maturidade.
    Aprender a errar é uma arte também como aprender com o erro. Às vezes vejo um filho meu na boca do erro, teimando, mas, se percebo que o erro não representa risco de vida ou prejuízo grave para eles, deixo que errem mesmo, para que aprendam, reflitam e usem a lição como base no futuro.
    Quanto aos meus erros, penso que sempre há muito o que aprender, certo?
    Beijão!

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    1. Petê Rissatti 11 de julho de 2011 @ 12:00

      Min,

      Com os nossos, com o alheio, acredito que aprender com o erro em busca do acerto nunca é demais. Teríamos um mundo bem melhor se toda mãe visse a oportunidade do erro para seus filhos como você vê.
      Beijão!

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  6. Carolina Caires Coelho 11 de julho de 2011 @ 15:08

    post perfeito, Petê. Nunca tive coragem de pegar as minhas primeiras traduções para ver os erros e tropeços, mas sei que existem, porque vou aprendendo mais a cada dia e me lembro dos erros que cometia. Mas esse aprendizado não termina. A gente precisa ter humildade e interesse para aprender e sempre deixar a tradução atual melhor do que a última. O amor que a gente sente pela tradução vai ajudando nessa luta 🙂 E NUNCA pegar o trabalho de um colega e ficar apontando os erros em público, como já vi algumas pessoas fazendo, porque o telhado de todo mundo é de vidro. Keep up the good work!

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    1. Petê Rissatti 11 de julho de 2011 @ 15:11

      Carolita,

      Já conversamos bastante sobre isso e sabemos que não somos perfeitos, mas lutamos para fazer o melhor a cada dia. Um beijo.

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  7. Moni 11 de julho de 2011 @ 16:10

    Petê, gostei MUITO do que você escreveu e adorei o comentário da Carol, principalmente esta parte: “E NUNCA pegar o trabalho de um colega e ficar apontando os erros em público, como já vi algumas pessoas fazendo, porque o telhado de todo mundo é de vidro.”

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    1. Petê Rissatti 11 de julho de 2011 @ 16:19

      Moni,

      A Carol falou uma bela verdade, infelizmente nossos colegas de profissão adoram mostrar o quanto são bons descendo o sarrafo nas traduções alheias. E ficam indignados quando o contrário acontece. Triste, triste…

      Beijo.

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  8. Helena 15 de julho de 2011 @ 22:40

    Bela lição de humildade do prof. Azenha, Petê…Obrigada por compartilhar!
    Um abraço,
    Helena (sua colega da oficina de tradução de literatura)

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